sábado, 20 de junho de 2009

Motociclistas mantêm hábitos irregulares

Mesmo com o aumento na frota e nos cursos de formação, condutores continuam fazendo do trânsito sobre duas rodas o mais perigoso do Estado

GUTO LOBATO
Da Redação

(Jornal Amazônia - Edição de 01/03/2009)

Não é preciso ser especialista em trânsito para constatar que as motocicletas viraram fenômeno no Estado. Em apenas nove anos, a participação destes veículos na frota local subiu de 17% para 41%, segundo levantamento anual do Departamento de Trânsito do Pará (Detran/PA). Só na Região Metropolitana de Belém, são mais de 53 mil motocicletas registradas no órgão atualmente - 50 mil apenas em Belém e Ananindeua. Em contrapartida, o não cumprimento das normas de segurança fazem com que o trânsito sobre duas rodas seja o mais perigoso. Basta uma volta pela capital paraense e condutores sem capacete, veículos sem placa ou com dados adulterados e até mesmo crianças na garupa saltam aos olhos. Atos que, além de engrossar as estatísticas dos pronto-socorros, contribuem para denegrir a imagem do motociclista.

O boom nas vendas de motocicletas e as facilidades de tráfego no trânsito das grandes cidades fizeram com que o transporte individual tenha se tornado febre em todo o País. Mas a falta de estrutura viária e, principalmente, de formação deste condutor, fazem com que acidentes sobre duas rodas liderem as estatísticas regionais: em 2008, o motociclismo respondeu por 30% das mortes e 41% dos ferimentos em acidentes de janeiro a novembro. É, tradicionalmente, um veículo que figura no ranking das infrações de trânsito - excesso de velocidade e não uso do capacete aí incluídos.

Segundo o coordenador de planejamento do Detran/PA Luiz Otávio Miranda, os números refletem uma preocupação que já chegou aos escritórios do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) - a de que, mais do que nunca, é preciso "profissionalizar" de vez a categoria do motociclista.

"As frotas não param de crescer, mas em contrapartida as gestões municipais não tomam medidas para melhor preparar a estrutura viária para este condutor. Também complica o fator imprudência do condutor, tanto na hora de dirigir quanto no uso de equipamentos de segurança como o capacete", explica.

Entre as infrações de motociclistas que já possuem resolução no Contran estão o não uso do capacete - que, desde o ano passado, deve ter selo de certificação do Inmetro e sinalizadores refletivos de segurança -, a adulteração, ocultamento ou o próprio não uso das placas, além de normas comuns às demais categorias, como as multas por excesso de velocidade ou por avançar o sinal vermelho.

Uma das cenas mais vistas nas vias públicas do Estado, no entanto, também deve ser alvo de atenção especial nos próximos anos: os condutores que trafegam sem as vestimentas recomendadas, como jaquetas, luvas, botas e calças compridas de tecido grosso. Apesar de ainda não haver legislação específica para isso - só os motoboys regulares são obrigados pelo Contran a usá-las -, Luiz Otávio Miranda reforça que elas já ajudariam na segurança do motociclista.

"Como o Contran não possui nada definido nesta parte das vestimentas, fica a cargo dos municípios obrigar ou não o condutor a usá-las. Mas a verdade é que trafegar de bermuda, tênis e camisas de malha fina, sem luvas, jaqueta e botas, dá mais proteção ao motociclista, que é considerado um condutor 'vulnerável'", analisa. "Já se regularizou estes equipamentos para os motofretes, e é uma tendência estender a coisa aos mototaxistas. Mas o condutor comum precisa, também, entender que estas medidas são essenciais para sua própria segurança também", encerra.

Irregularidades são vistas em todos os pontos da RMB

Durante a última semana, a reportagem percorreu alguns pontos da Região Metropolitana atrás dos motociclistas "irregulares". Não foi difícil encontrá-los, principalmente ao longo das rodovias Augusto Montenegro e BR-316 - curiosamente, as vias que lideram em número de acidentes. Entre as cenas mais frequentes, há condutores sem capacete - infração gravíssima, com direito multa e apreensão do veículo -, motos com três a quatro passageiros (todos sem capacete), placas adulteradas e até mesmo "profissionais" - policiais, mototaxistas, motoboys - infratores.

No município de Marituba, uma professora aposentada de 46 anos foi flagrada conduzindo sem capacete, de bermuda e blusa de malha fina, rumo à BR-316. Abordada pela reportagem, ela fez questão de frisar que toma todos os cuidados necessários, mas "só tinha dado uma saidinha". "Uso capacete sempre, mas moro aqui perto e só estou indo no mercado. A única coisa que me nego usar é jaqueta, que no nosso clima não dá", desconversou.

Outro motociclista de Marituba - que trafegava de sandália e sem capacete - aproveitou a ocasião para "denunciar" a ação dos agentes de trânsito e policiais. "Andar sem capacete não pode, mas vê quantos andam com moto roubada por aí e a polícia não faz nada! Já tive que pagar R$ 150 para recuperar uma moto porque o cara me pegou sem capacete", disse.

Vários pontos de Ananindeua - especialmente nos arredores da Avenida Independência -, Benevides e dos Distritos também são focos de irregularidades no trânsito. Em Belém, placas adulteradas e condutores sem capacete não são tão comuns no centro, mas os trajes inadequados persistem.

"É desconfortável o uso de roupas adequadas aqui em Belém. Aliás, quem aguenta ficar de jaqueta? Mas todo tipo de proteção é válido, ainda mais numa rodovia como a BR-316 ou a Augusto Montenegro", comenta o comerciante Edemar José de Souza, flagrado de bermuda e camiseta enquanto conduzia na estrada do Aurá.

Já o professor Hugo de Menezes se apoia no argumento de que não há punições para o não uso dos trajes. Para ele, a situação muda apenas em vias movimentadas. "Normalmente, uso short ou bermuda e camiseta, mas na BR-316, só ando de camisa e calça comprida", completa o morador de Marituba.

Baixos preços, crédito e financiamento facilitam mercado de vendas de motos

O aumento na frota de motocicletas não é exclusividade da capital do Estado. Em todo o Pará, até o final do ano passado, já haviam sido registrados 737.508 mil veículos, 41% deles motocicletas. Automóveis vêm logo em seguida, com 39%, enquanto que o resto corresponde a outros veículos, como bicicletas, caminhões, sidecars e camionetas. Em alguns municípios do interior, as motos literalmente comandam o trânsito - é o caso de Breves, cuja frota conta com 75% de motos, e de Santarém, com a quarta maior frota do Estado -, e a tendência é Belém, onde 15% da frota é de motos, aos poucos ceda mais espaço ao motociclismo.

Razões não faltam: no trânsito caótico, estes veículos são bons instrumentos para fugir de engarrafamentos e "cortar" caminho por entre os carros domésticos. Além disso, a precariedade do transporte público acaba forçando o morador da periferia a usufruir das duas rodas para circular rapidamente ao centro. Mas a principal razão, sem dúvida, é o preço reduzido e a facilidade de crédito na compra do veículo - o mais barato em termos de manutenção e recuperação atualmente.

Atualmente, uma moto considerada básica, de cerca de 125 cilindradas, custa entre R$ 2 e R$ 6 mil na Região Metropolitana de Belém. Em revendedoras, este preço pode baixar para até R$ 1 mil. Na hora da compra, são aceitos, além do pagamento à vista, mais em conta, métodos de financiamento, consórcio e crédito que, a curto e médio prazo, não pesam tanto no bolso do comprador.

De acordo com a consultora de vendas Natália Lima, funcionária de uma revendedora autorizada de motos em Belém, as vendas não murcharam, nem em tempos de crise, por conta destas facilidades. "Hoje em dia, a moto é uma alternativa a todas as confusões e problemas enfrentados em um carro ou em um ônibus, no trânsito engarrafado e caótico das capitais. É mais barata de manter e comprar. O único problema é que o mau uso do veículo, tão fácil de ver aqui em Belém, pode acabar saindo mais caro para o condutor, além de reforçar o preconceito em torno dos motociclistas em geral", analisa a consultora.

Motoclubes são boa opção para vencer preconceitos sobre a categoria

Uma boa opção para quem vê o motociclismo como um hobby ou alternativa aos carros e ônibus é recorrer aos motoclubes, coletivos de gente que se interessa pela categoria na sua forma clássica - com direito a todos os equipamentos e apetrechos recomendados. Além de fazer expedições, viagens coletivas e reuniões periódicas, eles fazem questão de difundir métodos de segurança entre si, como explica o designer e publicitário Alessandro Filizolla, 34, membro do Pará Motoclube. "Cada vez que a gente se reúne, aproveitamos para dar dicas aos novatos, conversar sobre as novidades da área e aprender a tornar o motociclismo uma forma de transporte viável e segura", comenta.

Há quatro anos trafegando exclusivamente de moto, Alessandro conta obedecer a todas as normas e recomendações de trânsito, desde o uso de capacetes até o de jaquetas, luvas e botas. Por conta disto, ele saiu ileso de um acidente sofrido há cerca de um ano em Belém, quando um veículo doméstico avançou sobre ele em uma curva fechada. "Como estava protegido, saí ileso, com apenas algumas cicatrizes. A maioria das vezes que chego perto de bater o carro, por sinal, foi por culpa de terceiros. Dirijo com cuidado e não vejo a moto como um instrumento para correr, ao contrário do que muita gente preconceituosa pensa", completa o designer.

O músico Fábio Beltrão, 34, membro do motoclube Abutre´s - que é nacional e possui 2 mil integrantes no Brasil e no exterior -, dá coro à opinião de Alessandro. "Quem é imprudente precisa ser punido de forma mais rigorosa pelos órgãos competentes. Com a facilidade de comprar uma motocicleta, a proliferação de motociclistas é inevitável... Daqui para a frente, o motociclista precisa ter um pouco mais de bom senso", avalia.

Para o delegado da Polícia Civil Aldo Macedo Botelho, 40 anos, membro do Pará Motoclube, a questão é saber diferenciar o motociclista do "motoqueiro", de forma a evitar preconceitos. "É muito comum generalizarem, mas o 'motoqueiro' é aquele que anda de chinelo, bermuda e sem capacete, ou então o motoboy e mototaxista que sai correndo por aí, com pressa, cortando todo mundo. Ser motociclista é andar equipado, respeitar o espaço que cada veículo tem no sistema de trânsito e ver a moto como um veículo, não como uma arma", analisa Aldo.

Na hora de conduzir, não se prenda às multas

- Nem todas as recomendações que o Contran direciona ao condutor de motocicletas de uso doméstico são passíveis de multa e sanções ligadas ao veículo e à carteira de motorista. Confira algumas dicas, entre obrigações dispostas no Código de Trânsito Brasileiro e recomendações de motoclubes e organizações de saúde e segurança no trânsito:

* Use botas, luvas, jaqueta e calça de couro ou tecido grosso: Dados do Detran/PA mostram que a maioria dos ferimentos em acidentes de trânsito envolvem as extremidades do corpo - mãos, pés, ombros, cotovelos. O uso de roupas mais grossas evitam colisões diretas com o solo e protegem o corpo de objetos perfurocortantes. Evite ao máximo trafegar sem camisa ou de sandálias convencionais. Este tipo de calçado, assim como em carros, é proibido;

* Use capacete: A regra básica do motociclismo. Não usá-lo é infração tão grave quanto andar acima de 20% da velocidade máxima ou avançar sinal vermelho - portanto, pode resultar na apreensão do veículo e até na perda da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). É preciso, na nova legislação, que ele tenha selo de aprovação do Inmetro; também não vale deixar a viseira aberta. O acompanhante deve obedecer a todas estas regras;

* Evite o "transporte coletivo": Motocicletas conduzindo três ou quatro pessoas pode parecer absurdo, mas é prática corriqueira na RMB e no interior do Estado. Evite a prática, pois na hora de uma colisão, mais pessoas significam mais vidas em risco;

* Não dirija sem carteira de habilitação: Hoje, há categorias próprias para a formação de condutores de motocicletas. Dirigir sem carteira gera punições para o proprietário do veículo, portanto evite "emprestar" a moto de outro para sair dirigindo sem uma formação completa;

* Deixe a placa à mostra: Dependendo do método utilizado para ocultar os números da placa da moto, a prática pode virar até caso de polícia. Não tente fugir das araras desta forma riscando a placa ou pondo cartões sobre os números, pois isso é crime de trânsito. Também não vale andar sem placa, pois a apreensão do veículo pelos agentes de trânsito é imediata;

* Cuidado ao "cortar" veículos: Há multa para esse caso - a mesma que se aplica a carros que "conduzam de forma inadequada" -, mas o perigo não é o olho atento do agente de trânsito, e sim os riscos de um acidente fatal. Apesar de não ter uma "motofaixa", as vias têm espaço para que o motociclista trafegue sem ter de "cortar" carros e ônibus para ultrapassá-los;

terça-feira, 2 de junho de 2009

US$ 60 bilhões em investimentos no Pará até 2012

Maioria dos recursos privados e públicos está concentrada longe da capital; com investimentos, demanda por mão-de-obra, bens e serviços cresce cada vez mais no interior

GUTO LOBATO
Da Redação

(Edição de 9/11/2008 - Jornal "O Liberal")

Nos próximos quatro anos, o Pará vai vivenciar uma plena expansão da demanda por mão-de-obra, gerando 120 mil empregos impulsionados por investimentos privados e públicos da ordem de quase 60 bilhões de dólares – concentrados, em sua maioria, em projetos do setor das regiões Sul e Sudeste. Esta tendência, que já vinha sendo apontada por estudiosos da economia local, foi reiterada com os dados apresentados no estudo “Pará – Investimentos 2008-2012”, lançado recentemente pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) por meio de seu Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF). Entre outros detalhes, a pesquisa chama a atenção para a descentralização de recursos que se configura no Estado – e, por conseqüência, para a necessidade de se estabelecer uma rede local de mão-de-obra qualificada, bens e recursos, no intuito de usar o bom período a favor da cadeia econômica local.

Por meio de entrevistas e diálogos com mais de 40 empresas ligadas ao PDF e grupos nacionais e internacionais que planejam implantar (ou já implantaram) projetos no Estado, a equipe do Programa coletou ao longo de 2008 dados relativos ao futuro, porém concretos, que anunciam uma realidade instigante tanto para o empreendedor e o profissional liberal paraenses quanto para o próprio Governo do Estado.

De acordo com o documento, o Pará receberá um total de US$ 46,2 bilhões de dólares em investimentos da iniciativa privada (70% destes aplicados pela mineradora Vale) até 2012, além de mais US$ 9,09 bilhões do Poder Público por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e outros projetos. O resultado é uma média anual de US$ 10,6 bilhões em investimentos privados para todo o Pará – 71% deste valor concentrado no Pólo Carajás (Sul, Sudeste e parte do Nordeste do Estado), que reúne boa parte dos projetos implantados ou em fase de implantação (veja quadro). Apenas 34% dos empregos e 23% dos investimentos privados serão na região da Grande Belém, no extremo Nordeste paraense.

Em conseqüência desta mudança de eixos, regiões vistas como “atrasadas” podem se tornar a menina dos olhos de quem associa o interior do Estado ao atraso econômico e à falta de chances de crescimento. “Este quadro é resultado de um processo que tem se configurado ao longo destes anos. Hoje, os investimentos estão todos acontecendo na região de Carajás e no Tapajós, as empresas se instalam onde há recursos e oportunidades”, explica o coordenador geral do PDF, David Araújo Leal.

Com a geração de novos pólos produtivos, outra tendência apontada pelo estudo é que, cada vez mais, as regiões do Carajás e Tapajós precisarão de uma cadeia estruturada de oferta de bens e serviços, além de empresas aptas para trabalhar com os recursos oferecidos. Segundo David Leal, o trabalho conjunto à atividade dos projetos instalados é a maior oportunidade em anos para aquecer a economia do Estado.

“Um exemplo bastante claro é quando você instala uma planta industrial – uma siderúrgica, uma mina de extração, etc. – em determinado local. Imediatamente, uma cadeia produtiva é gerada: as empresas precisam de serviços como saúde, segurança, transporte, limpeza, e, além disso, tornam-se fornecedoras de material industrializado para que o empreendedor local trabalhe. Este efeito em cascata faz com que a presença dos projetos industriais no Pará seja interessante para ambos os lados, trazendo desenvolvimento econômico e social para a região ao mesmo tempo em que gerando lucros ao investidor”, avalia.

Mão-de-obra precisa ser qualificada

Outra questão levantada pelo estudo da Fiepa é se os mais de 120 mil empregos que serão gerados no Estado até 2012 terão quantidade suficiente de mão-de-obra qualificada para preenchê-los. Conforme apontado pelo PDF, a escolaridade do trabalhador paraense ainda está concentrada, majoritariamente, nos níveis fundamental (42%) e médio (40%), sendo apenas 10% dos profissionais de nível técnico e 8% de nível superior. Na contrapartida, as empresas precisam cada vez mais de profissionais destes dois últimos segmentos para atender não só às demandas dos projetos, mas também do setor de prestação de serviços e de construção civil e montagem industrial, entre outros.

No intuito de propor uma reconfiguração deste quadro, o estudo anuncia que, nos próximos anos, este quadro provavelmente irá se reverter, com pelo menos 18% da mão-de-obra no nível técnico e 12% no superior. Para isto, no entanto, mais de 35 mil trabalhadores deveriam ser treinados e capacitados para atender às necessidades dos investidores.

“O primeiro passo é incentivar a formação e capacitação no próprio local em que os projetos estão instalados, com cursos, programas de ensino técnico e universidades, mas também é importante que o profissional ou empreendedor da capital comece a se interessar mais pelo potencial do interior paraense. Este estudo, acima de tudo, é um alerta para que nós estruturemos uma boa cadeia de fornecimento, antes que as próprias empresas de fora façam isso e o Estado perca uma chance única de desenvolvimento seguro e viável”, conclui David Leal.

Interior é oportunidade de crescimento profissional

Logo ao terminar a faculdade de Administração com Habilitação em Marketing, em 2004, o belenense Caetano dos Reis Neto, 28, mudou-se para Marabá (situada no Pólo Carajás) para gerir a franquia de uma rede de escolas de ensino profissionalizante. Menos de dois anos depois, sua esposa, Isabela, 25, graduada em Administração com Habilitação em Recursos Humanos, também saiu da capital e passou a trabalhar na empresa. A opção pela mudança, segundo Caetano, teve a ver com os novos horizontes de crescimento profissional que a região possibilitava ao ramo de atuação do casal.

“A qualificação já era importante aqui bem antes de chegarmos, a cidade e a região Sudeste como um todo vivem uma fase de pleno crescimento. Nós vivenciamos a dificuldade de encontrar boas oportunidades em Belém, e quando chegamos aqui, ficamos surpresos com a recepção no mercado da nossa franquia. O sucesso se deve, principalmente, ao mercado de trabalho, que já é competitivo e ávido por profissionais capacitados”, relata o empresário.

Atualmente, Isabela e Caetano administram duas franquias em Marabá, uma em Nova Marabá e outra na região da Cidade Nova, atendendo a cerca de 2 mil alunos. Em três anos de atividade, a empresa já formou pelo menos 10 mil alunos, dos quais 3,5 mil estão no mercado de trabalho. Segundo o casal, a saudade de Belém é grande, mas não inspira neles qualquer vontade de retornar à capital.

“No início bateu aquela preocupação se o negócio ia dar certo, deu saudades da família e dos amigos, de certos hábitos que tiveram que ser mudados... Mas, com o tempo, superamos certos medos e começamos a nos preocupar mais com nossa carreira. No momento, a região do Carajás vive uma fase positiva e precisa de profissionais, então, como paraenses, esperamos que os recém-formados dos próximos anos mudem a mentalidade enraizada nas capitais e venham atrás de oportunidades no interior”, conclui Caetano dos Reis Neto.

DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS E EMPREGOS NO ESTADO DO PARÁ ATÉ 2012
Fonte: “Pará – Investimentos 2008-2012: oportunidades e desafios” (PDF/ Fiepa, 2008)

PÓLO DO CARAJÁS

Investimento (apenas o privado): US$ 32,608 bilhões
Projetos (privados ou públicos, em execução ou em planejamento): 32
Empregos (privados): 50 mil ou 60% do total

PÓLO DO TAPAJÓS

Investimento (apenas o privado): US$ 2,910 bilhões
Projetos (privados ou públicos, em execução ou em planejamento): 16
Empregos (privados): 8,9 mil

GRANDE BELÉM

Investimento (apenas o privado): US$ 10,689 bilhões
Projetos (privados ou públicos, em execução ou em planejamento): 15
Empregos (privados): 27,15 mil

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Acesso à leitura ainda é desafio no Pará

No Estado, pelo menos seis municípios não possuem bibliotecas públicas; além disso, apenas 40% das escolas estaduais têm bibliotecas

GUTO LOBATO
Da Redação

(Jornal Amazônia - Edição de 23/11/2008)

Promover o acesso integral à leitura continua sendo uma meta a se alcançar no Pará. Mais uma vez, o levantamento anual do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, divulgado pelo Governo Federal na última semana, mostra que ele continua sendo um dos 21 Estados que ainda possuem municípios sem nenhuma biblioteca. A região Nordeste continua liderando o ranking, com 70% dos 362 municípios sem bibliotecas públicas concentrados em seu território, seguida da região Norte, onde o Pará contabiliza cinco municípios sem bibliotecas, ficando atrás apenas do Amazonas, que tem 24.

Devido à própria dinâmica de implantação do serviço no Estado - que depende de visitas técnicas e cessão de recursos governamentais -, os números locais sobre o assunto são atualizados semanalmente. O SNBP contabiliza cinco municípios sem bibliotecas no Pará, mas, até a última quinta-feira, o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas (SEBP), vinculado à Fundação Cultural Tancredo Neves, apontava seis: Vigia, São Caetano de Odivelas, São João da Ponta, Bonito, Vitória do Xingu e Comaru do Norte.

As cidades de Eldorado dos Carajás, Juruti, Placas, Quatipuru e Tailândia também sofrem com o problema, mas irão receber os kits leitura do Programa Livro Aberto, dos Ministérios da Cultura e da Educação, até o final do ano. Em entrevista à reportagem, o diretor de leitura e informação da Fundação Tancredo Neves, José Maria Vilhena, assumiu que ainda há dificuldade em se implantar integralmente o serviço público, mas destacou melhoras significativas no quadro desde o início de 2008. Em onze meses, as estatísticas já teriam sido reduzidas em mais de 60%.

"No final do ano passado, tínhamos 18 municípios sem biblioteca, agora são apenas seis. Temos feito visitas técnicas a todos estes locais, afinal de contas é preciso ver pessoalmente a situação das bibliotecas. Temos lugares que fecharam salas de leitura, outros que nunca tiveram e alguns que já têm o espaço físico, mas falta acervo", apontou.

Atualmente, o Pará dispõe de 158 bibliotecas públicas - ou seja, mais que o número de municípios do Estado. No entanto, pólos locais acabam concentrando naturalmente a maioria de acervo e salas de leitura - só Marabá, maior cidade do Centro-Sul paraense, por exemplo, possui dez em sua região urbana. Um dos principais entraves para intensificar a descentralização, segundo José Maria Vilhena, é a relação nem sempre fácil entre as gestões estadual e municipal.

"Há todo um processo burocrático, pois nós do Estado entramos com capacitação e assessoramento. O Governo Federal entra com o acervo e os equipamentos. Cabe ao município, então, tomar conta da biblioteca e conseguir espaço físico para implantá-la, o que nem sempre é fácil", atenta o diretor. "Às vezes acontece de bibliotecas fecharem por falta de políticas públicas de manutenção e incentivo à leitura por parte das gestões municipais. Agora que passou o período eleitoral, por exemplo, vamos ter de rever nossos números", conclui.

Municípios esperam apoio do Governo Federal

Apesar do atraso da implantação das bibliotecas públicas - serviços considerados essenciais e prioritários pelo Governo Federal -, todos os seis municípios que oficialmente não as possuem já estão a caminho de inaugurá-las. Dos seis, apenas Vitória do Xingu ainda não foi visitado pela equipe técnica da Fundação Tancredo Neves, o que deve ser feito até o ano que vem, segundo José Maria Vilhena. Os demais municípios já enviaram pedidos formais aos sistemas estadual e municipal de bibliotecas.

A reportagem do Jornal Amazônia tentou entrar em contato com representantes dos seis municípios, tendo sucesso apenas em dois casos. Em entrevista, o secretário de administração e finanças de São Caetano de Odivelas, Paulo Massud, afirmou que o principal desejo da prefeitura local é receber o apoio do Programa Livro Aberto, para receber um material de apoio completo.

"Quando entramos no governo, no início de 2008, após o prefeito anterior falecer, não havia biblioteca, logo solicitamos o serviço de vistoria ao Governo do Estado. Agora, já enviamos documento pedindo acervo e verbas do Governo Federal. Já temos um espaço físico no centro da cidade para implantá-la, inclusive", afirmou.

No município de Bonito, Nordeste paraense, a adesão ao Programa Livro Aberto já foi realizada com o apoio da Fundação Tancredo Neves. De acordo com a secretária de educação do município, professora Luciana Moura, a presença da biblioteca vai ajudar, principalmente, o alunado local. "Temos cerca de 3 mil alunos e nenhuma biblioteca, nem mesmo escolar, a única que tivemos há uns quatro anos foi desativada. Com os recursos federais, a intenção é implantar um espaço disponível à comunidade como um todo, mas com um acervo enriquecido de livros didáticos escolares", conclui a secretária.

Estado ainda carece de bibliotecas escolares

Outra dificuldade que persiste no Estado é a de aumentar o número de bibliotecas escolares vinculadas à rede estadual de ensino. Segundo a Secretaria Estadual de Educação do Pará (Seduc), atualmente apenas 490 das 1214 escolas públicas do Estado têm bibliotecas, o que representa apenas 40% de acesso à leitura no espaço escolar. Mesmo assim, a coordenadora do Sistema de Bibliotecas Escolares da Seduc, Sônia Santos, afirma que o ritmo de implantações é intenso – a estimativa é que 70% das escolas tenham bibliotecas com equipes técnicas até 2010.

"Hoje, temos 490 contabilizadas, mas a maioria das demais escolas já abriu pelo menos uma sala de leitura. Estes números são dinâmicos e se referem, principalmente, às salas completas, com técnicos, material permanentemente utilizado e utilização adequada do espaço de leitura, mas temos um acervo mínimo em todas as escolas", explica Sônia, frisando que, atualmente, o Estado está tomando uma série de ações visando à melhor distribuição das bibliotecas no Estado.

"Recentemente, abrimos concursos para técnicos em biblioteconomia, e agora estamos distribuindo este pessoal em municípios que estejam sem técnicos. O acervo já está sendo adquirido e, acima de tudo, estamos trabalhando intensamente na formação continuada de professores, afinal de contas, não adianta encher uma estante de livros e dizer que há uma biblioteca em cada escola. É preciso que o alunado tenha interesse, que o professor saiba utilizar o material em sala de aula e, principalmente, que haja uma cultura do uso da biblioteca para além das atividades curriculares", avalia a coordenadora do SBE-Seduc.

Hábitos de leitura estão associados a classes econômicas, afirma pesquisa

Há quatro anos em atividade, o Programa Livro Aberto, do Governo Federal, já gerou mudanças nas estatísticas de acesso à leitura em todo o Brasil. Em 2001, um relatório nacional apontou a existência de mais de 1,2 mil municípios brasileiros sem bibliotecas públicas. Sete anos depois, restam "apenas" 362, apontando uma redução de mais de 70% - mas um problema persiste: o de hábitos de leitura.

Segundo a pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, cuja segunda edição foi lançada pelo Instituto Pró-Livro neste ano, apenas 35% dos brasileiros médios declararam gostar de ler em seu tempo livre. Destes, apenas 55% lêem com freqüência no Norte brasileiro (veja quadro). Quando questionados se haviam lido algum livro nos últimos três meses, apenas 55% afirmaram tê-lo feito. Destes, 75% declararam não freqüentar bibliotecas. O número de compradores de livros também está ligado à escolaridade: enquanto as classes A e B, juntas, compram em média 7 livros ao ano, as classes D e E compram apenas um.

Dos 45% não-leitores brasileiros, 11% dizem não possuir paciência para ler, 7% não compreendem e 15% declararam não ser alfabetizados suficientemente para a leitura. Outro dado importante é que mais da metade dos não-leitores pertence às classes D ou E, o que reforça a tese de que o hábito da leitura está ligado ao poder econômico e ao nível de escolaridade.

A doutora em Letras e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maria Antonieta da Cunha declarou, em artigo introdutório da análise, que um dos entraves à criação do hábito da leitura no País é a falta de conhecimento e acesso aos acervos públicos e escolares. Por conta da dificuldade de obter o livro, a população tende a possuir outras preferências.

“Há uma grande, enorme fatia da população que não conhece os materiais de leitura, ou conhece muito mal. Há um claríssimo problema de acesso aos materiais de leitura, especialmente ao livro. Mesmo tendo-os por perto, falta a descoberta, a volta na chave que faz a súbita ligação e torna o sujeito capturado para a leitura. Ele não descobriu a senha. Por isso mesmo, à frente da leitura, depois apenas de ver televisão, ouvir música e às vezes ouvir rádio, os entrevistados (mesmo os mais novos) afirmam preferir ocupar seu tempo livre... descansando”, afirmou.

Estados que têm mais municípios sem bibliotecas públicas
Fonte: Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas

- O Nordeste continua concentrando a maioria dos municípios sem bibliotecas públicas (75%). Em seguida, vem a região Norte, onde o Amazonas lidera o ranking com 24 municípios sem o serviço. O Pará fica em 12º lugar, com cinco municípios (quando a pesquisa foi feita)

Piauí – 79
Bahia – 67
Paraíba – 48
Rio Grande do Norte – 28
Amazonas – 24
Goiás – 25
Rio Grande do Sul – 13
São Paulo – 15
Maranhão – 11
Pernambuco – 10
Tocantins – 10
Pará – 5
Roraima – 5

Freqüência de leitura por região
Fonte: Instituto Pró-Livro/2008

- O Norte continua sendo o Estado em que os que se declaram leitores menos lêem com freqüência.

NORTE
55% dos que gostam lêem com freqüência

NORDESTE
59% dos que gostam lêem com freqüência

SUDESTE
71% dos que gostam lêem com freqüência

CENTRO-OESTE
60% dos que gostam lêem com freqüência

SUL
75% dos que gostam lêem com freqüência

Redução de estômago impõe mudança de hábitos

Cirurgia bariátrica, que se tornou febre no mundo moderno, possui riscos e consequências que devem ser assimilados por quem deseja fazê-la.

GUTO LOBATO
Da Redação

(Jornal "Amazônia" - Edição de 22/02/2009)

Aos 18 anos, a microempresária paraense Maria Vera Brandão tinha uma estrutura corporal considerada dentro dos padrões. Com 1,60 m de altura, a jovem nascida em Tucuruí pesava 58 kg assim que assumiu o emprego que mantém até hoje, administrando um apart hotel na região central de Belém. Após o nascimento do segundo filho, no entanto, Vera viu a silhueta mudar num piscar de olhos: aos 30 anos, já se aproximava dos 100 kg. Aos 40, começou a ter problemas de arritmia cardíaca e hipertensão. Com apoio especializado, ela recorreu à mesma solução procurada por mais de 50 mil brasileiros de vinte anos para cá: a cirurgia de redução de estômago, ou cirurgia bariática. Um procedimento que divide opiniões, mas permanece sendo a principal saída para vencer a obesidade mórbida que resiste às dietas e tratamentos.

A história de Maria Vera, no entanto, ainda não está encerrada. Pelo contrário: está apenas começando. Assim que decidiu fazer a cirurgia, em meados de agosto do ano passado, ela sabia estar assumindo todas as consequências de um procedimento que, além de ser arriscado do ponto de vista cirúrgico, pode trazer resultados que se perdem com o passar do tempo.

"Antes de optar pela redução de estômago, fiz de tudo. Ginástica, remédios, dietas, terapia... Tudo que pudesse controlar a ansiedade que me fez engordar descontroladamente após os 30", comenta a microempresária. "Quando eu e meu médico escolhemos a cirurgia, era porque não tinha mais alternativa. Assumi todos os riscos, sabendo deles, pois era algo de que dependia para ter uma boa saúde", completa.

Tais riscos são bem conhecidos por quem teve de recorrer à cirurgia. Segundo uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica divulgada em 2008, há cerca de 4 milhões de pessoas com obesidade mórbida no Brasil. Metade dos que recorreram à cirurgia ganhou peso com o fim do pós-operatório, sendo que até 15% deles foram - ou serão - operados novamente.

As razões são várias, mas a principal é: o corpo pode encolher, mas as vontades, não. A cabeça do ex-obeso continua fissurada por comida; a saciedade não vem facilmente, os enjoos não inibem o apetite. Por conta disto, Maria Vera, hoje com 51 anos de idade, faz o possível para manter os resultados conquistados nos seis meses de pós-operatório - impressionantes 46 kg a menos - com o apoio de vários profissionais de saúde, como médicos e nutricionistas.

"O médico tinha me dito que ia perder isso após um ano, mais ou menos, mas consegui me superar", comemora. "Consegui isso porque não fiquei resignada às limitações. Aprendi a me alimentar da forma correta, com seis pequenas refeições diárias, e conto com o apoio de um nutricionista para montar um cardápio. Ele é composto quase todo de frutas, peixe e carne branca. Tenho consciência de que meu corpo tem de se readaptar, não posso me encher de doces e 'enganar' o estômago com outras coisas", conta Vera.

Além disso, a microempresária mantém uma rotina de consultas a psicólogos e exercícios físicos - estes últimos, presentes desde os tempos de obesa. "Agora faço musculação, mas nunca fui uma gorda sedentária, era gorda de insistência mesmo (risos). Enfim, quero ficar 'chuchu' para o meu marido, ficar com tudo em cima. Quando completar um ano, vou ver o que faço para levantar o que os exercícios não conseguirem ajeitar", brinca dona Maria Vera.

Após a cirurgia, alimentação correta deve ser adotada

Não apenas na hora de se recuperar da cirurgia bariátrica, mas também para optar por ela, o apoio de um profissional nutricionista é essencial. Segundo a nutricionista mestranda em teoria e pesquisa do comportamento pela UFPA Daniela Lopes Gomes, 24, é recomendado que o paciente só recorra ao procedimento quando todos os métodos convencionais de tratamento não tiverem surtido efeito - e, mesmo assim, com consentimento de profissionais especializados. "Alguns pacientes veem a cirurgia bariática como uma solução milagrosa, mas ela é importante apenas quando se está pronto para modificar hábitos alimentares e assumir uma nova rotina de exercícios e costumes", explica.

No processo de reeducação alimentar, explica Daniela, os pacientes voltam a comer em quantidades normais de forma gradativa e precisam tomar cuidados especiais com a ingestão de alimentos gordurosos, mais pesados e difíceis de digerir. Por outro lado, as dietas que devem acompanhar a redução de estômago devem ser restritivas na medida certa, já que o corpo precisa receber quantidade suficiente de nutrientes para não haver perda de massa magra.

Por conta disto, é preciso que um nutricionista esteja de prontidão para orientar a alimentação do ex-obeso - que, ao contrário do que se pensa por aí, pode, sim, ter seus pequenos "deslizes", contanto que de forma pontual. "O que engorda não é a exceção, e sim a regra. Todos podemos comer doces ou alimentos gordurosos de vez em quando - inclusive quem fez a redução de estômago -, a prática só não pode se tornar constante. O acompanhamento do nutricionista ajuda o paciente a orientar sua dieta de acordo com sua capacidade gástrica", completa Daniela Gomes.

Maioria de pacientes que recorrem à cirurgia é do sexo feminino

Com ares de orgulho, o cirurgião bariátrico Marcelo Prado Magalhães, 34, que cuidou do caso de Maria Vera Brandão, reconhece-a como uma paciente rigorosa e dedicada. "Ela é extremamente cuidadosa com a orientação nutricional, faz um acompanhamento correto no consultório e tem uma atividade física importante, o que é nossa maior preocupação após a realização da cirurgia", comenta. "Mantendo a alegria pela vida que ela já tem, estará bem amparada, sempre", completa o médico.

Durante sua experiência no ramo, Marcelo reconheceu que a maior frequência de pacientes que desejam fazer o procedimento vem do sexo feminino, com idades entre 20 e 65 anos. Na hora de procurar apoio especializado, no entanto, as razões variam. "A gente sempre mostra ao nosso paciente o lado da saúde, já que a cirurgia diminui os riscos de doenças associadas como diabetes, hipertensão, trombose e outros, mas o que também leva o paciente ao consultório, e na maioria das vezes, é a questão estética", comenta.

Segundo o cirurgião, é preciso frisar que as abordagens e técnicas utilizadas variam de paciente para paciente - portanto, deve-se ouvir várias vozes e fazer uma bateria de exames antes de recorrer à redução de estômago. "Novos métodos são divulgados nos congressos médicos e em pesquisas, mas a orientação multidisciplinar ajuda a escolher o método certo para cada paciente", analisa. "Atualmente, o grande volume ainda é da gastroplastia com ou sem anel e da banda gastrica", aponta Marcelo Magalhães.

Valor reforçador da comida deve ser substituído

A analista do comportamento e pesquisadora Lúcia Cristina Cavalcante, 37 anos, vive há pelo menos quatro às voltas com uma extensa pesquisa junto a pacientes que se submeteram à cirurgia bariátrica. Em uma análise da produção científica de analistas brasileiros sobre o assunto, ela chegou à conclusão de que são necessárias "estratégias de enfrentamento" para se lidar com as modificações orgânicas causadas pelo procedimento.

"Muitas vezes, ocorre o abandono do tratamento e a manutenção de um modo de vida muito semelhante ao que era tido antes. Há casos até de pacientes que não voltam a engordar, mas que desenvolvem outros transtornos, como anorexia e bulimia. Os pacientes bem sucedidos precisam saber lidar com as mudanças, com as situações em que ingeriam muita comida, por exemplo", explica.

De acordo com a analista, a melhor forma de evitar as famosas recaídas após o emagrecimento é procurar apoio multiprofissional e, assim, conhecer melhor os próprios limites. "A cirurgia é um passo, o caminho é maior. Os pacientes devem ampliar seu repertório de comportamentos sociais, passando a encontrar gratificações em outros aspectos do ambiente que substituam, de certa forma, o valor reforçador da comida, além de receber orientação especializada sobre as modificações promovidas pela cirurgia", conclui Lúcia.

Entenda a cirurgia bariátrica

O que é?

Há vários métodos, mas o procedimento clássico consiste em se confeccionar um novo estômago com capacidade de cerca de 100 ml (ou menos), por meio de grampeamento, redução ou implantação de uma banda gástrica (pequena bolsa) ou de um anel de contenção no órgão original, além de se fazer um desvio de cerca de 2 m no intestino, de forma a criar um padrão restritivo na absorção de nutrientes no organismo;

Quanto tempo dura?

O procedimento cirúrgico dura cerca de 2h. O tempo de internação hospitalar é de cerca de 4 dias. Para retornar às atividades convencionais, são necessários 10 dias de repouso. Já a alimentação convencional só poderá ser retomada 30 dias depois;

Quem consultar?

É preciso buscar apoio junto a médicos de especialidades como endocrinologia, gastroenterologia, cirurgia plástica, nutrologia, psiquiatria e cirurgia geral, para avaliar as possibilidades de recorrer ao tratamento e ajudar no pós-operatório. Também é preciso recorrer a outros profissionais de saúde, como psicólogos e nutricionistas;

Que exames fazer?

Endoscopia, ultrassonografia, raio-x de tórax e exames de laboratório são essenciais antes do procedimento;

Quais são os riscos?

O risco de mortalidade é considerado baixo (inferior a 0,5%), mas o paciente pode estar sujeitos a complicações cirúrgicas e efeitos durante o período pós-operatório, como a rejeição da prótese implantada no estômago;

Quem deve fazer?

São candidatos à cirurgia bariátrica pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) acima ou igual a 40Kg/m² ou pacientes com IMC entre 35Kg/m² e 39,9kg/m² portadores de diabetes, cardiopatias ou hipertensão arterial. O procedimento é recomendado a quem tentou outros métodos para reverter o quadro de obesidade - terapias, reeducação alimentar, medicação e dietas - sem obter sucesso;

Quais os efeitos?

Dependendo da complexidade e da técnica adotadas, o apetite será reduzido, o controle da absorção de nutrientes no organismo será maior, a digestão será favorecida e a sensação de saciedade, facilitada;

Onde fazer?

O procedimento completo é oferecido gratuitamente em Belém, via Sistema Único de Saúde (SUS), apenas no Hospital Ofir Loyola (Magalhães Barata, 992), mas outros hospitais particulares podem realizá-lo;

Alguns casos que deram certo

- A advogada Rita de Cássia Pinto, 36, optou pela cirurgia de redução de estômago quando já pesava 116 kg, com apenas 1,57 m de altura. "Tomei todos os tipos de remédios e nunca consegui emagrecer. Perdia peso, mas depois ganhava o dobro do que emagrecia. Em 2003, fiz um exame de glicose e os resultados foram preocupantes. Procurei um cirurgião e, cerca de um mês depois, me operei. Perdi 46 kg desde então", conta. Hoje, Rita voltou a engordar 10 kg, mas nada que a tenha posto em situação preocupante. "Ganhei peso, e isso prova que a cirurgia não é milagrosa, mas me sinto feliz e saudável. Meus exames são sempre bons e minha glicose está ótima".

- Aos 20 anos, a publicitária Izabella Leal de Araújo foi diagnosticada com obesidade mórbida e recorreu a um endocrinologista para avaliar as chances de uma cirurgia de redução. "Não tive problemas na infância, para a minha mãe eu era apenas 'fofinha' (risos). Meu problema sempre foi um misto de gula e tendência para ganhar peso. Mas fui diagnosticada com obesidade quando já estava na faculdade e, nove meses depois, fiz a cirurgia". Desde então, Izabella já emagreceu 50 kg. "A obesidade é uma doença, e como tal deve ser tratada desde cedo", opina.

- A estudante de Terapia Ocupacional Ana Paula Loureiro, 21 anos, recorreu à cirurgia após tentar várias formas de reeducação alimentar. Poucos meses antes da cirurgia, ela pesava por volta de 100 kg, distribuídos em 1,60 m de altura. "Sempre fui muito gordinha, e não foi por comer doce, besteiras. Na hora do almoço, trocava tudo isso por saladas, carne, feijão. O problema era a quantidade", conta. Em 2005, após uma bateria de exames, a universitária fez a cirurgia e perdeu 40 kg - dos quais cerca de 10 kg foram recobrados. "Não sou de praticar exercícios físicos, fiz um tempo na época do pós-operatório", completa.