quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cresce número de usuários de bicicletários do metrô e CPTM*

Metrô e CPTM têm pontos de estacionamento e empréstimo, mas paulistano ainda carece de ciclovias para fazer trajetos curtos

GUTO LOBATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


Antes visto como lazer de final de semana, o hábito de andar de bicicleta tem sido cada vez mais adotado pelo paulistano na hora de circular pela cidade. Desde a inauguração do sistema de bicicletários integrados ao metrô e à rede da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), em 2007, o número de usuários só faz crescer.

No ano passado, mais de 36 mil bicicletas foram estacionadas e 29 mil alugadas nas 15 estações do metrô que dispõem do serviço - um salto de 1.013% em relação a 2008, quando foram registradas 2.606 locações. Na CPTM, que oferece bicicletários em 19 estações, o volume de veículos estacionados é maior: cerca de 562 mil.

Os números ainda não são ideais, segundo especialistas, mas apontam que o paulistano já começou a deixar o carro na garagem para pedalar sobre duas rodas até as estações de metrô e trem. A carência de ciclovias e ciclofaixas, a geografia acidentada e a má qualidade do ar da capital, no entanto, dificultam essa mudança de hábitos.

O modelo integrado de bicicletários e metrô já foi implantado em cidades como Paris. No Brasil, Brasília e Rio de Janeiro também têm investido na medida para controlar o trânsito.

Em São Paulo, onde 17 mil km de avenidas convivem com 35,5 km de ciclovias, a proporção de deslocamentos com bicicleta não passa de 0,6%. O sistema que integra metrô e bicicletários tenta reverter esse quadro, permitindo ao usuário alugar um veículo à porta das estações e pedalar durante uma hora. Após esse período, paga-se R$ 2 por hora de uso.

Além dos 15 bicicletários integrados às linhas 1 - Azul, 2 - Verde e 3 - Vermelha, há estações com paraciclos - estacionamentos para viagens de curta duração. A CPTM oferece vagas para estacionar em 19 estações.

A maioria das locações de bike é feita entre as estações Tatuapé e Corinthians-Itaquera, da Linha 3 -Vermelha do metrô. Isto porque, à margem da Radial Leste, a ciclovia Caminho Verde, com 12,2 km, ajuda a evitar o aperto nos vagões em horários de pico.

Outra área de boa demanda é a da ciclovia da Marginal Pinheiros, que segue ao lado da Linha 9 - Esmeralda da CPTM, da Vila Olímpia até a estação Autódromo. A ciclovia tem 14 km e ganhará mais 6 km até o final do ano.

Usuários, no entanto, reclamam dos poucos acessos à pista - são apenas três - e da falta de integração. “Para popularizar a bicicleta, é preciso ligar o centro da cidade aos bairros por meio de mais ciclovias”, diz o empresário Celso Cardoso, de 36 anos, morador do Campo Belo e ciclista desde a juventude.

Na tarde de quarta-feira (15), a reportagem da Folha visitou o bicicletário da estação Guilhermina-Esperança, na linha 3 - Vermelha. Às 17h30, o estacionamento estava lotado. A média de locações na área é pequena - de oito a dez por dia; boa parte dos moradores prefere levar veículos próprios.

Ao invés de pegar o metrô ou dirigir, o técnico em contabilidade Márcio Saraiva, de 35 anos, prefere seguir de bicicleta da Vila Esperança, onde reside, até seus compromissos no Belém. O trajeto pela ciclovia da Radial Leste dura dez minutos - nada muito diferente do tempo obtido com um carro. “Ainda ia me estressar mais e gastar gasolina”, diz.

Usuário convicto da bike, Márcio diz ver o ciclismo como uma boa solução para o trânsito de São Paulo. “O problema é que ainda há muito preconceito em torno de quem usa esse tipo de transporte. Isso sem contar o ar poluído e as ladeiras das ruas de alguns bairros da cidade, que cansam muito”, conclui.

Expansão

46 novos bicicletários e 5 paraciclos estão nos planos de expansão do metrô, segundo a Secretaria de Transportes Metropolitanos. Já a CPTM prevê inaugurar pelo menos dez novos bicicletários em estações que passam por processo de revitalização.

Até o final do ano, o metrô deve ganhar novos pontos de aluguel e estacionamento nas estações Tamanduateí e Vila Prudente, da linha 2 -Verde. Paraciclos também serão instalados nas estações Parada Inglesa e Jardim São Paulo, da linha 1 -Azul. Um bicicletário está em fase de implantação na estação Penha, da linha 3 -Vermelha, para se integrar à ciclovia da Radial Leste.

Mas a principal beneficiada será a linha 5 - Lilás, que está em expansão: entre 2011 e 2012, haverá nove novas estações com bicicletários, indo do Alto da Boa Vista até a Vila Mariana, na zona sul.

No sistema ferroviário, a oferta deve crescer em linhas como a 7 - Rubi, a 8 - Diamante e a 12 - Safira, que estão em processo de recuperação. A garantia é de que toda nova estação de trem tenha o espaço desde sua inauguração, segundo o gerente de planejamento da CPTM Ayrton Camargo e Silva.

“Pensamos em dois públicos: o que não usa a bicicleta por falta de local para guardá-la, e o que sequer havia pensado nessa opção de transporte. Com os bicicletários, ambos são incentivados a valorizar o veículo, que tem a vantagem de ser rápido, prático em deslocamentos curtos e não poluente”, afirma.

Bicicletários integrados ao metrô e CPTM

A OFERTA
- Hoje, o sistema metroferroviário possui 34 bicicletários - 15 no metrô e 19 na CPTM - e nove paraciclos, sendo sete deles no metrô.
- Todos os bicicletários do metrô possuem o serviço de aluguel de veículos;
- Juntos, metrô e CPTM oferecem 5.726 vagas de estacionamento para bicicletas;
- Hoje, a capital paulista conta com 35,5 km de ciclovias, com mais 6 km em obras e 55 km em projeto;
- A previsão é que mais 46 bicicletários e 5 paraciclos sejam inaugurados no programa de expansão do metrô;
- Todas as futuras estações e linhas da rede metroferroviária terão bicicletários;

A DEMANDA
- No metrô, 46.657 bicicletas foram alugadas e 63.045 foram estacionadas de 2007 até setembro deste ano;
- Em 2009, 36.076 bikes foram estacionadas e 29.006 alugadas no metrô - crescimento de 1.013% em relação a 2008;
- Na CPTM, 1.169.126 bicicletas foram estacionadas desde agosto de 2008;
- Só no ano passado, foram 562.182 acessos nos bicicletários das estações de trem;

Fontes: Secretaria dos Transportes Metropolitanos / Instituto Parada Vital / Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET/ SP)




* Versão não editada da matéria publicada na Folha de S. Paulo - Edição SP/DF de 22/09/2010, disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/802845-bicicletarios-do-metro-e-da-cptm-atraem-mais-ciclistas-em-sao-paulo.shtml