terça-feira, 2 de junho de 2009

US$ 60 bilhões em investimentos no Pará até 2012

Maioria dos recursos privados e públicos está concentrada longe da capital; com investimentos, demanda por mão-de-obra, bens e serviços cresce cada vez mais no interior

GUTO LOBATO
Da Redação

(Edição de 9/11/2008 - Jornal "O Liberal")

Nos próximos quatro anos, o Pará vai vivenciar uma plena expansão da demanda por mão-de-obra, gerando 120 mil empregos impulsionados por investimentos privados e públicos da ordem de quase 60 bilhões de dólares – concentrados, em sua maioria, em projetos do setor das regiões Sul e Sudeste. Esta tendência, que já vinha sendo apontada por estudiosos da economia local, foi reiterada com os dados apresentados no estudo “Pará – Investimentos 2008-2012”, lançado recentemente pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) por meio de seu Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF). Entre outros detalhes, a pesquisa chama a atenção para a descentralização de recursos que se configura no Estado – e, por conseqüência, para a necessidade de se estabelecer uma rede local de mão-de-obra qualificada, bens e recursos, no intuito de usar o bom período a favor da cadeia econômica local.

Por meio de entrevistas e diálogos com mais de 40 empresas ligadas ao PDF e grupos nacionais e internacionais que planejam implantar (ou já implantaram) projetos no Estado, a equipe do Programa coletou ao longo de 2008 dados relativos ao futuro, porém concretos, que anunciam uma realidade instigante tanto para o empreendedor e o profissional liberal paraenses quanto para o próprio Governo do Estado.

De acordo com o documento, o Pará receberá um total de US$ 46,2 bilhões de dólares em investimentos da iniciativa privada (70% destes aplicados pela mineradora Vale) até 2012, além de mais US$ 9,09 bilhões do Poder Público por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e outros projetos. O resultado é uma média anual de US$ 10,6 bilhões em investimentos privados para todo o Pará – 71% deste valor concentrado no Pólo Carajás (Sul, Sudeste e parte do Nordeste do Estado), que reúne boa parte dos projetos implantados ou em fase de implantação (veja quadro). Apenas 34% dos empregos e 23% dos investimentos privados serão na região da Grande Belém, no extremo Nordeste paraense.

Em conseqüência desta mudança de eixos, regiões vistas como “atrasadas” podem se tornar a menina dos olhos de quem associa o interior do Estado ao atraso econômico e à falta de chances de crescimento. “Este quadro é resultado de um processo que tem se configurado ao longo destes anos. Hoje, os investimentos estão todos acontecendo na região de Carajás e no Tapajós, as empresas se instalam onde há recursos e oportunidades”, explica o coordenador geral do PDF, David Araújo Leal.

Com a geração de novos pólos produtivos, outra tendência apontada pelo estudo é que, cada vez mais, as regiões do Carajás e Tapajós precisarão de uma cadeia estruturada de oferta de bens e serviços, além de empresas aptas para trabalhar com os recursos oferecidos. Segundo David Leal, o trabalho conjunto à atividade dos projetos instalados é a maior oportunidade em anos para aquecer a economia do Estado.

“Um exemplo bastante claro é quando você instala uma planta industrial – uma siderúrgica, uma mina de extração, etc. – em determinado local. Imediatamente, uma cadeia produtiva é gerada: as empresas precisam de serviços como saúde, segurança, transporte, limpeza, e, além disso, tornam-se fornecedoras de material industrializado para que o empreendedor local trabalhe. Este efeito em cascata faz com que a presença dos projetos industriais no Pará seja interessante para ambos os lados, trazendo desenvolvimento econômico e social para a região ao mesmo tempo em que gerando lucros ao investidor”, avalia.

Mão-de-obra precisa ser qualificada

Outra questão levantada pelo estudo da Fiepa é se os mais de 120 mil empregos que serão gerados no Estado até 2012 terão quantidade suficiente de mão-de-obra qualificada para preenchê-los. Conforme apontado pelo PDF, a escolaridade do trabalhador paraense ainda está concentrada, majoritariamente, nos níveis fundamental (42%) e médio (40%), sendo apenas 10% dos profissionais de nível técnico e 8% de nível superior. Na contrapartida, as empresas precisam cada vez mais de profissionais destes dois últimos segmentos para atender não só às demandas dos projetos, mas também do setor de prestação de serviços e de construção civil e montagem industrial, entre outros.

No intuito de propor uma reconfiguração deste quadro, o estudo anuncia que, nos próximos anos, este quadro provavelmente irá se reverter, com pelo menos 18% da mão-de-obra no nível técnico e 12% no superior. Para isto, no entanto, mais de 35 mil trabalhadores deveriam ser treinados e capacitados para atender às necessidades dos investidores.

“O primeiro passo é incentivar a formação e capacitação no próprio local em que os projetos estão instalados, com cursos, programas de ensino técnico e universidades, mas também é importante que o profissional ou empreendedor da capital comece a se interessar mais pelo potencial do interior paraense. Este estudo, acima de tudo, é um alerta para que nós estruturemos uma boa cadeia de fornecimento, antes que as próprias empresas de fora façam isso e o Estado perca uma chance única de desenvolvimento seguro e viável”, conclui David Leal.

Interior é oportunidade de crescimento profissional

Logo ao terminar a faculdade de Administração com Habilitação em Marketing, em 2004, o belenense Caetano dos Reis Neto, 28, mudou-se para Marabá (situada no Pólo Carajás) para gerir a franquia de uma rede de escolas de ensino profissionalizante. Menos de dois anos depois, sua esposa, Isabela, 25, graduada em Administração com Habilitação em Recursos Humanos, também saiu da capital e passou a trabalhar na empresa. A opção pela mudança, segundo Caetano, teve a ver com os novos horizontes de crescimento profissional que a região possibilitava ao ramo de atuação do casal.

“A qualificação já era importante aqui bem antes de chegarmos, a cidade e a região Sudeste como um todo vivem uma fase de pleno crescimento. Nós vivenciamos a dificuldade de encontrar boas oportunidades em Belém, e quando chegamos aqui, ficamos surpresos com a recepção no mercado da nossa franquia. O sucesso se deve, principalmente, ao mercado de trabalho, que já é competitivo e ávido por profissionais capacitados”, relata o empresário.

Atualmente, Isabela e Caetano administram duas franquias em Marabá, uma em Nova Marabá e outra na região da Cidade Nova, atendendo a cerca de 2 mil alunos. Em três anos de atividade, a empresa já formou pelo menos 10 mil alunos, dos quais 3,5 mil estão no mercado de trabalho. Segundo o casal, a saudade de Belém é grande, mas não inspira neles qualquer vontade de retornar à capital.

“No início bateu aquela preocupação se o negócio ia dar certo, deu saudades da família e dos amigos, de certos hábitos que tiveram que ser mudados... Mas, com o tempo, superamos certos medos e começamos a nos preocupar mais com nossa carreira. No momento, a região do Carajás vive uma fase positiva e precisa de profissionais, então, como paraenses, esperamos que os recém-formados dos próximos anos mudem a mentalidade enraizada nas capitais e venham atrás de oportunidades no interior”, conclui Caetano dos Reis Neto.

DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS E EMPREGOS NO ESTADO DO PARÁ ATÉ 2012
Fonte: “Pará – Investimentos 2008-2012: oportunidades e desafios” (PDF/ Fiepa, 2008)

PÓLO DO CARAJÁS

Investimento (apenas o privado): US$ 32,608 bilhões
Projetos (privados ou públicos, em execução ou em planejamento): 32
Empregos (privados): 50 mil ou 60% do total

PÓLO DO TAPAJÓS

Investimento (apenas o privado): US$ 2,910 bilhões
Projetos (privados ou públicos, em execução ou em planejamento): 16
Empregos (privados): 8,9 mil

GRANDE BELÉM

Investimento (apenas o privado): US$ 10,689 bilhões
Projetos (privados ou públicos, em execução ou em planejamento): 15
Empregos (privados): 27,15 mil

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