sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Cuidado com os golpes do centro

Bairro da Campina vira foco de ação de descuidistas, golpistas e assaltantes em épocas de grande movimento. PM promete intensificar policiamento à paisana.

GUTO LOBATO
Da Redação

Todo mundo sabe que, com a chegada do período de festas de final de ano, o movimento financeiro no centro de Belém tende a aumentar. O problema é que os furtos, roubos e crimes de estelionato registrados na Seccional Urbana do Comércio crescem na mesma proporção. Tradicionalmente responsável por um grande volume de ocorrências, seja qual for a época do ano, o bairro da Campina, que compreende a área de comércio da capital, é o principal foco da ação de golpistas e descuidistas; por isso, é preciso estar atento à hora de frequentar lojas e agências bancárias, para evitar furtos, e tomar todo o cuidado para não cair nas mãos de estelionatários.

A dica parece clichê, mas reflete a maioria dos esforços atuais das polícias Civil (PC) e Militar (PM) que atuam no Comércio. Isso porque alguns golpes antigos, como o "conto do Paco" e o "Bilhete premiado", continuam enganando muita gente, sobretudo quem não está habituado à lábia dos oportunistas de plantão. O fato surpreendente é que, por vezes, os prejuízos conseguem ser iguais ou até superiores aos de um furto ou assalto à mão armada.

Na terça-feira passada, uma dupla de estelionatários foi presa pela PM, sob a acusação de ter aplicado uma mistura dos golpes do "Paco" e do "Bilhete premiado" contra uma mulher que viera do interior para fazer compras. O golpe funcionou da seguinte forma: o acusado Marcos de Oliveira Barros abordou a vítima na rua Campos Sales e a convenceu de que ele tinha o direito de buscar um prêmio lotérico. Em seguida chegou Valdecir Fernandes, o outro golpista, que confirmou a informação. Porém, Marcos não teria como ir ao suposto endereço onde o prêmio seria resgatado, pedindo ajuda à vítima.

Ela entregou os R$ 100 que trouxera do interior na mão dos bandidos, como garantia de confiança, recebendo em troca um pacote, e seguiu até o endereço fornecido. Era uma agência bancária que fechou há meses. O pacote que a vítima havia recebido dos bandidos, que era de pano e escondia seu conteúdo, continha R$ 8 em dinheiro e vários papéis dobrados. Por sorte, policiais militares à paisana acompanharam a ação e conseguiram prender a dupla em flagrante alguns quarteirões adiante.

Como as vítimas só têm aumentado nos últimos meses, vale lembrar: o "Paco" é geralmente praticado por duas pessoas. No começo, uma delas deixa cair um pacote de dinheiro no chão, bem perto da vítima. Quando esta vai pegá-lo no chão, outra pessoa chega e a convida para dividir o dinheiro. Em seguida, o suposto "dono" - que observou toda a ação - volta para pegá-lo e decide recompensar a dupla por tê-lo guardado. Só que a vítima tem de se prontificar a dar sua carteira, bolsa ou dinheiro como garantia, já que parte do valor precisa ser entregue e/ou recuperado em um endereço.

Quando ela chega ao local combinado, descobre que a recompensa e a quantia deixada em suas mãos, dentro de uma sacola fosca, são falsas. "Como todo estelionato, estes golpes têm relação direta com o interesse em se dar bem, em obter lucro fácil, de ambas as partes. Por isso dizemos que é um tipo de crime cujo sucesso depende da ganância e ingenuidade da vítima", afirma o capitão Vicente Neto, comandante da 6ª Zona de Policiamento (Zpol) da PM. "As vítimas não são apenas pessoas de baixa instrução formal, como muita gente pensa. São maioria, sim, mas tem muita gente esclarecida que também cai na lábia dos bandidos. Já tivemos casos de gente que perdeu R$ 9 mil nessa situação", complementa.

"Bilhete premiado" e "promoção falsa" também são comuns

Outra modalidade bastante comum é a do "Bilhete premiado". Fingindo-se ingênuo e desinformado - muitas vezes dizendo ter vindo do interior -, o golpista aborda uma vítima e pede ajuda para resgatar o valor de um bilhete premiado. Em seguida aparece outro bandido, desta vez bem vestido e de boa aparência, oferecendo comprar o tal bilhete. Empolgada, a vítima participa do esquema e descobre ter em mãos um papel falso - muitas vezes, um bilhete lotérico de numeração "fria" ou falsificada.

Há uma variação: pedir à vítima que resgate o valor em um endereço falso, deixando objetos pessoais, bolsa e até cartões como garantia - como no caso de terça-feira passada. Para escapar desses golpes, segundo o comandante da 6ª Zpol da PM, a melhor medida é ter o pensamento pragmático e realista. "É só refletir: se você tivesse um bilhete premiado, ia querer dividir com alguém? Se a pessoa não sabe como resgatar o valor, pode pedir ajuda para a polícia, para os funcionários de casas lotéricas e bancos, que não vão 'receber' pela ajuda", diz o capitão Vicente.

A equipe de policiamento "velado" - leia-se à paisana - da 6ª Zpol também já identificou outro tipo de golpe praticado no comércio de Belém. As vítimas geralmente são ribeirinhos que vêm à capital para fazer compras de roupas e aparelhos eletrônicos. Os golpistas ficam às proximidades do mercado do Ver-o-Pêso, abordam as vítimas de aparência mais ingênua e oferecem para ajudar em suas compras, garantindo preços promocionais em troca de uma pequena comissão.

Como a maioria das lojas do centro de Belém possui mais de uma saída, os golpistas deixam suas vítimas em uma delas e escapam com o dingeiro, sem deixar pistas. Em agosto deste ano, um freteiro natural da Ilha das Onças foi vitimado pelo golpe; porém uma equipe coordenada pelo cabo Lúcio, do policiamento velado, acompanhou a situação e fez a prisão do acusado - um feirante de 39 anos de idade. "A orientação para quem anda pelo comércio é, sempre, desconfiar de tudo e de todos", diz o policial.

Policiamento velado terá efetivo ampliado

Atualmente, o principal investimento da polícia em coibir a ação de golpistas e furtadores na zona comercial da cidade é o policiamento velado, que já atua na área desde o ano de 2007. De lá para cá, PMs da 6ª Zpol têm feito treinamentos para, gradualmente, serem transferidos ao destacamento, que atua de forma silenciosa nos principais pontos de criminalidade da área. Atualmente, 15 PMs atuam nessa modalidade, divididos em duas escalas de plantão que cobrem os bairros da Campina, Cidade Velha, Umarizal e Reduto.

A intenção, no entanto, é ampliar esse efetivo em breve. "Estamos com a expectativa de pôr pelo menos mais uns doze agentes nas ruas no ano que vem. Para isso, vamos dispor do efetivo que vai entrar em breve com o novo concurso da PM do Estado", diz o capitão Vicente Neto. "Nossa intenção é trabalhar, de forma conjunta, com o policiamento velado e o ostensivo. Dessa forma, vamos reduzir os indicadores preocupantes que a área comercial de Belém possui, tanto em golpes e furtos quanto em assaltos à mão armada, 'saidinhas' e por aí vai", complementa.

Situado entre os cinco bairros com maior índice de criminalidade da capital do Estado, a Campina registrou, somente em 2008, 5.046 ocorrências, segundo dados do Sistema Integrado de Segurança Pública (Sisp). O número quase empata com o de bairros como Coqueiro e Pedreira, perdendo apenas para o Guamá, com suas 7 mil ocorrências anuais. O número é ainda mais surpreendente quando cruzado com os dados da 6ª Zpol, referentes, somente, aos meses de janeiro a outubro de 2008: 2.145 das ocorrências registradas pela PM na Campina envolvem o crime de roubo (veja quadro).

A comparação com 2007, em que houve "apenas" 743 ocorrências, indica um verdadeiro surto de criminalidade no ano passado. Os dados estão sendo revertidos, porém com dificuldade: no mesmo período deste ano, foram 1.972 ocorrências. Até agora, o mês de novembro acumula 145 registros. "Já é um indicativo de que o modelo de policiamento velado surte efeito quando unido à polícia ostensiva. E nós já estamos prontos para esses últimos 40, 45 dias de 2009. É uma época em que as ocorrências dão um salto, mas vamos controlá-las", garante o capitão Vicente.

Criatividade dos golpistas e furtadores não tem limites

Parece clichê, mas é verdade: a criatividade de quem está envolvido com o mundo do crime não possui limites. Quem trabalha no policiamento da zona comercial de Belém já se deparou com situações, no mínimo, curiosas - um bom exemplo é a nova técnica para furtar objetos de lojas, descoberta pela polícia recentemente. Trata-se do uso de bolsas de papel alumínio e durex para guardar objetos roubados e despistar sensores.

Os bandidos entram nas lojas carregando as bolsas dentro de pastas ou sacolas e, quando a situação permite, colocam algum produto lá dentro. A proteção do alumínio ajuda a evitar os sensores que ficam à porta das lojas. "Por isso que dizemos que não só os transeuntes, como também os vendedores, precisam ficar atentos. O crime migra para onde há oportunidade, então é normal que áreas de muito movimento estejam cheias de descuidistas e autores de furtos desse tipo", aponta o cabo Miranda, do policiamento velado da 6ª Zpol.

Não é preciso muito trabalho para ouvir relatos do tipo nas lojas do Comércio. Um gerente de loja da travessa Frutuoso Guimarães, que prefere ter sua identidade preservada, relata já ter visto todo tipo de crime transcorrer dentro do estabelecimento. "Já flagramos gente tentando sumir com coisas da prateleira, gente roubando carteira e bolsa de cliente, gente tentando fazer 'conto do Paco' aqui dentro. Infelizmente, não temos funcionários para vigiar todo mundo que entra e sai da loja", relata.

Segundo o gerente, uma das vantagens para controlar a ação criminosa, atualmente, é a proximidade da loja com a Seccional Urbana do Comércio. "Temos o apoio da polícia, mas infelizmente não depende só deles. Quem furta e aplica golpes nessa área é oportunista, sabe aonde ir e quem enganar. Mas já estamos com as atenções redobradas por conta do período de festas. Vamos pôr mais gente na porta da loja, prestar bastante atenção em quem entra", garante.

Estatísticas de roubos na zona comercial
Período: Janeiro a outubro
Fonte: 6ª Zpol/PM

Bairros: Campina, Umarizal, Cidade Velha e Reduto


2007 - 1.688
2008 - 4.186
2009 - 3.827

Bairro: Campina

2007 - 743
2008 - 2.145
2009 - 1.972

Algumas dicas de segurança

- Desconfie de propostas mirabolantes: Cartões e bilhetes premiados, prêmios milionários, garantias de recompensa - desconfie de tudo isso. Se alguém chegar com propostas fascinantes e lhe pedir quantias em garantia, é melhor estar sempre com um pé atrás e desconversar. Em caso de insistência, procure a polícia e/ou a guarda municipal para denunciar;

- Cuidado com os "descuidistas": Esses vão muito além dos batedores de carteira. Tem gente que consegue levar até bolsa e porta-cédulas sem que você perceba - tudo com uma leve esbarrada em uma rua movimentada ou no corredor de uma loja. Os descuidistas geralmente carregam bolsas onde guardam seus objetos furtados. Se você for lojista, por sinal, fica a fica: bolsas revestidas de papel alumínio já são usadas para despistar os sensores de mercadorias que ficam à porta dos estabelecimentos;

- Evite andar com (e exibir) muito dinheiro vivo: Assaltos e furtos são comuns no Comércio por conta da grande circulação de dinheiro. Os golpes, por sua vez, costumam ser praticados contra pessoas de aparência inocente/distraída e que estejam no local fazendo compras. Procure chamar o mínimo de atenção possível, dividindo os gastos entre o cartão de débito/crédito e o dinheiro vivo. Dessa forma, a investida de golpistas e bandidos pode ficar bem menor;

- Comunique e registre suas denúncias: Em caso de você ver ou ser vitimado por um golpe nos moldes do "Paco", do "Bilhete premiado" ou da "promoção falsa", não hesite em procurar as polícias Civil (PC) e Militar (PM). Mais vergonhoso que ter caído na lábia dos bandidos é deixá-los escapar ilesos do delito. O procedimento correto é registrar a ocorrência - que ajudará na hora dos mapeamentos e estatísticas - e tentar dar o máximo de apoio à investigação;

- Cuidado com as agências bancárias: Não só pelos golpes, mas pelos assaltos e "saidinhas", os bancos da região central são especialmente perigosos e suscetíveis ao crime. Tome cuidado à hora em que for ao caixa - repare se não está sendo seguido, se ninguém está de olho em sua tela e se não há nenhuma alteração no aparelho. Se alguém suspeito começar a bater papo com você na fila, muito cuidado para não se deixar levar. Há, também, casos de cartões que ficam retidos nos caixas após a implantação de dispositivos clonadores.

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