domingo, 1 de novembro de 2009

Pontos de ônibus viram alvo de ação criminosa

Paradas mal iluminadas e situadas em locais ermos viram foco de assaltos e agressões nos quatro cantos de Belém

GUTO LOBATO
Da Redação

(Jornal Amazônia - Edição de 01/11/2009)

É bem verdade que a violência urbana traz, consigo, uma série de restrições à liberdade da população. Não bastasse o perigo de pegar um carro e dirigir à noite ou caminhar a pé por ruas desertas, no entanto, há um novo alvo da ação de criminosos que tem chamado a atenção nas estatísticas policiais da capital: os usuários de transporte público. Não só utilizar, como também esperar pelos ônibus nos pontos distribuídos nas vias da Região Metropolitana de Belém pode significar um risco, principalmente em horários intermediários ou em ruas de bairros vulneráveis à ação de bandidos – no centro ou na periferia.

Não há estatísticas oficiais em relação a crimes cometidos nas paradas de ônibus da grande Belém. As polícias Civil (PC) e Militar (PM), no entanto, já reconhecem os pontos de maior incidência de assaltos e seus respectivos horários. Os dados sobre esta modalidade se resumem, regra geral, a relatos informais, assim como nos casos de assaltos a ônibus; quase todos impressionantes por conta da audácia e agressividade dos criminosos.

O motorista Júlio (nome fictício), residente em Belém, faz parte do grupo dos que já foram vítimas dentro e fora dos coletivos. Em 2005, ele foi violentamente espancado a pauladas por dois assaltantes em uma parada de ônibus situada na avenida Pedro Álvares Cabral, no bairro do Telégrafo. A agressão foi por conta de uma reação do motorista a um assalto.

Dois homens sem camisa e armados com pedaços de pau o abordaram, por volta de 22h, pedindo dinheiro para comprar droga. “Mostrei que só tinha o vale-transporte, mas eles insistiram, disseram que queriam comprar ‘noia’. Só tinha um relógio recém-comprado e não quis dá-lo. Tentei fugir, mas eles me jogaram no chão e começaram a me espancar. A rua estava vazia, gritei mas ninguém ouviu”, conta.

A sessão de espancamento só parou depois que, de forma surpreendente, um casal que vinha pela Pedro Álvares Cabral decidiu ajudar Júlio. Um homem não identificado desceu do carro, disparou para o alto com um revólver e resgatou o motorista. “Estava quase inconsciente, minha cabeça ficou aberta, um ferimento de seis pontos que sangrou muito. Esse casal me pôs no carro e me deixou na porta do Pronto-Socorro da 14 de Março”, diz. “Se não fosse por eles, teria sido morto. E o pior: por nada”, acredita.

O outro assalto que o motorista sofreu foi há cerca de dez anos. Ele foi agredido por bandidos que invadiram um coletivo em frente ao Teatro da Paz, na Praça da República, e levaram o veículo até a passagem Jabatiteua, na fronteira dos bairros de Canudos e Terra Firme.

“Eram quatro homens armados. Sem querer, olhei no rosto de um deles. Acabei levando uma coronhada de revólver no supercílio. Sangrei até me deixarem no Pronto-Socorro, outra vez”, relata. Hoje, o motorista luta para que o medo não lhe impeça de transitar pela rua normalmente. “É difícil, porque a gente fica com a impressão de que pode ser atacado a qualquer hora. Seja no ponto de ônibus ou dentro dele”.

Atenção dos pedestres é essencial, afirma delegado

Relatos como o de Júlio não são nada difíceis de encontrar, em especial para quem fica à espera dos coletivos em pontos mal-iluminados e de localização crítica. Entre as vias arteriais que mais têm sido alvo da ação de bandidos estão avenidas como Perimetral (no bairro da Terra Firme), Pedro Álvares Cabral (Telégrafo/Barreiro/Sacramenta), Roberto Camelier (Jurunas), Independência (Cabanagem/Coqueiro) e Júlio César (Val-de-Cães), além das rodovias Augusto Montenegro, Mário Covas, Transcoqueiro e BR-316.

Essenciais ao acesso e saída da capital do Estado, vias como essas são constantemente vistas nas páginas da imprensa como pontos de assaltos a passageiros de coletivos e pedestres. Mesmo assim, autoridades consideram que não há como eleger uma ou outra zona crítica; o delegado de Polícia Civil Sérvulo Cabral é um dos que veem o crime de roubo como uma constante nas estatísticas de criminalidade da grande Belém.

“Pensando sob a ótica dos criminosos, uma parada de ônibus nem seria um bom local para cometer crimes, já que elas geralmente ficam movimentadas. Mas, claro, há casos em que a pessoa fica sozinha à espera do ônibus em um ponto mal-iluminado e ermo, o que atrai os assaltantes. Mas, de forma geral, isso é um reflexo da violência que está nas ruas, não é algo que se aplique apenas aos pontos”, aponta.

Diretor da Seccional Urbana da Sacramenta, que cobre as ocorrências de bairros como Val-de-Cães, Barreiro e Sacramenta, o delegado Cabral aponta que operações da Polícia Civil têm conseguido coibir o crime em áreas “vermelhas”; porém, a especialização do crime torna tal trabalho um desafio diário. Não somente para as autoridades, como também para a população.

“A ideologia do crime mudou. Hoje dificilmente vemos crimes sem planejamento, mesmo os mais simples. Os assaltos em pontos de ônibus, muitas vezes, resultam de um bom tempo de observação. O bandido passa desarmado no local e avisa os comparsas, que trazem as armas para consumar o assalto”, diz. “Por isso sempre dizemos que a polícia faz sua parte, mas a população precisa estar atenta. É sempre bom olhar à sua volta e ver se tem alguém estudando o ambiente. Os roubos, de forma geral, têm muito a ver com nosso descuido”, completa Cabral.

Policiamento velado e rondas a pé coíbem investidas no centro

Bairros como Comércio, Campina, Cidade Velha e Reduto, localizados no centro comercial e histórico de Belém, são tradicionalmente críticos no que se refere a furtos e roubos. Por conta disso, a 6ª Zona de Policiamento (Zpol) da PM, destacamento responsável pela cobertura do centro da capital, é uma das que mais investe em ações preventivas, como rondas a pé e o uso do policiamento “velado” – leia-se à paisana.

O capitão PM Vicente Neto, comandante da 6ª Zpol, diz que há dados que apontam a maior incidência de assaltos e agressões físicas em horários intermediários – entre 12h e 13h ou entre 18h e 19h, por exemplo. “É a hora em que as pessoas estão na pausa do almoço ou voltando para casa. O curioso é observar que, dependendo da situação, os assaltantes agem de uma forma. Com movimento, furtam ou atacam dentro dos coletivos. Se estiver mais vazio, cometem assaltos e agressões físicas no meio da rua mesmo”, revela.

Dos bairros da região central de Belém, um dos mais críticos é o da Campina, que, só em 2008, registrou mais de 5 mil ocorrências – cerca de 70% associadas ao roubo. Índice semelhante ao de bairros como Telégrafo e Sacramenta, por exemplo, que contêm várias áreas classificadas como críticas pela polícia. A forma de tentar reverter estas estatísticas, segundo o capitão Vicente, possui caráter preventivo.

“Hoje, vemos que às vezes não é preciso fazer alarde, e sim entender a mente do bandido. Temos nossos métodos de evitar o crime ao invés de simplesmente combatê-lo. Em relação às ações em paradas de ônibus, por exemplo, contamos com o policiamento velado. Diariamente há PMs à paisana estudando a ação de descuidistas e assaltantes nessas áreas em que, por vezes, o usuário de transporte público fica desprotegido”, comenta o comandante da 6ª Zpol.

Situação na Seccional do Guamá também é crítica

Não é apenas o cidadão comum que sofre com as investidas de bandidos nos pontos de ônibus da capital. Os servidores de Polícia Civil lotados na Seccional Urbana do Guamá, situada na esquina das avenidas Tucunduba e Perimetral, têm sido alvo de constantes assaltos desde o final de julho deste ano. O motivo: desde que o terminal de ônibus da avenida Tucunduba foi inaugurado, a parada que havia em frente à seccional foi extinguida.

Com isso, os funcionários precisam atravessar a ponte sobre o rio Tucunduba para pegar algumas linhas; e, é claro, o movimento logo ficou bem conhecido pelos assaltantes. Tanto que os servidores chegam a solicitar escolta policial para ir pegar ônibus após um dia de expediente. “Quando é de noite, providenciamos alguma ajuda para fazê-los ir até a parada sem correr riscos. Esta é uma área muito perigosa”, diz a delegada Cynthia Viana, da seccional.

Bairro com maior histórico de violência de Belém, segundo dados do Sistema Integrado de Segurança Público (Sisp) referentes ao ano passado, o Guamá é, também, o que mais registra ocorrências por roubo. Das 7 mil ocorrências registradas na seccional do bairro, nada menos que 3 mil são associadas ao crime de roubo. Muitos deles praticados em paradas de ônibus situadas à beira das avenidas Bernardo Sayão e Perimetral, que ligam o bairro ao centro da cidade.

ALGUMAS DICAS DE SEGURANÇA

* Atenção com os bolsos e bolsas – Mulheres costumam liderar nas ocorrências de roubo por conta das bolsas, mais fáceis de roubar que as carteiras ou mochilas masculinas. Por conta disso, é importante manter a bolsa bem colada ao corpo – com as alças bem apertadas e os braços fechados –, de forma a evitar puxões. Para os homens, a melhor dica é evitar pôr a carteira no bolso de trás. Assim, evita-se a ação de descuidistas;

* Não desperte a cobiça dos bandidos – Andar pela rua ouvindo música é um direito de qualquer cidadão, é verdade. Mas, para evitar problemas, não custa nada evitar fazê-lo em horários e locais ermos, especialmente se estiver sozinho. Da mesma forma, evite falar ao celular, mexer em aparelhos eletrônicos ou tirar a carteira do bolso quando estiver na rua;

* Mantenha-se sempre atento – A dica é válida tanto para paradas de ônibus quanto para caminhadas na rua em geral. Olhar à sua volta é a melhor arma para evitar as investidas de bandidos, desviando o caminho, entrando em uma loja ou escolhendo outro ponto para pegar um ônibus, por exemplo. “A observação do pedestre é fundamental e capaz de evitar várias modalidades de crime”, aponta o delegado Sérvulo Cabral;

* Melhor estar acompanhado – Pode até contrariar um velho ditado, mas estar só na rua – em especial no horário de almoço ou à noite – é bem pior que ter uma companhia indesejada. “A maioria dos assaltos ocorre contra pessoas que estão sozinhas. São alvos mais fáceis e que dificilmente põem o assaltante para correr”, explica o capitão Vicente, da 6ª Zpol. Tente andar sempre em grupos – e, se estiver sozinho na rua à noite, não tenha vergonha de seguir um grupo que anda à sua frente;

* Evite paradas vazias e mal iluminadas – Já que às vezes é inevitável pegar ônibus em pontos de “zonas vermelhas”, o jeito é escolher bem em qual parada ficar. Evite as que ficam situadas em áreas escuras ou com pouco movimento, especialmente à noite. Como o pedestre está parado e indefeso diante da ação de bandidos, é preciso reduzir as chances de cair nas mãos deles;

* Muito cuidado à hora de pegar o ônibus – O linchamento recente de um adolescente que subiu em um ônibus e tentou assaltar passageiros na Pedro Álvares Cabral mostra que a violência nos pontos também invade os coletivos. Por conta disso, repare bem em quem está subindo no ônibus junto a você. A polícia avisa que, em alguns casos, os assaltantes preferem agir nos coletivos – em especial quando as paradas ficam em áreas de muito movimento. Em caso de haver alguém suspeito, espere outro ônibus e ligue para a polícia para que a situação seja averiguada;

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